quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fugue Poètique


A leitura é a cura
A literatura, pura
Muda com sua ternura
Usa todo o seu carinho
Apaga a nossa rasura
Oh, Fabuloso cupido!                                               
Na loucura, na censura
Mostre o caminho
Perfura com a bravura
Ao saber desconhecido
Adorável escritura
De doces letras que trazem
O símbolo do divino
Apura nossa cultura
É nosso querido hino!

sábado, 13 de outubro de 2012

Janela, Janelinha

Janela, Janelinha

          Um impulso ressona, perfazendo-se em todos os pontos cardeais de todas as dimensões: em direção àquele sofá, em que tantas tardes de férias e tempo inútil se passaram; por de fora da janela pela qual vejo o caminho a ser percorrido até alguma indefinição de imprevisível sem novidade; pela quarta dimensão: presente, futuro, passado... O quartzo geme (em) sua angústia de aleatório incontrolável frêmito, intrínseco à sua existência não pensada, desencadeando timidamente o impositivo tempo, de pensar. Desencadeando, como quem abre uma caixa de Pandora, a sequência de acontecimentos que se permite a existir.
       Um quê de inexplicável ressoa nas imagens desbotadas do passado, tão semelhantes a uma miopia quanto é um quadro impressionista do átimo de experiência- algum raio desfiado de Sol- que pintou em sua existência a bela ideia de fazê-lo e percebê-lo pelos significados que vir-se-ão adsorver. Alguma mudança que me impossibilita de perceber os ângulos com os quais faço as coisas serem vistas, e foram vistas. Somente conheço à possibilidade e ocorrência de ângulos, talvez não realmente necessários.
          Ano passado, ainda presente em lembranças despropositadas de fachadas de prédios imersos em verde, grande mérito dessa cidade, onde as ruas brotam da grama. Observava longamente o umbral de onde vi os mais diversos pontos aos quais me ligaria sem poder diferenciá-los até então. Ali principiei a saber como se sente um peão de xadrez, a considerar seu rei, a esperar seu martírio por um fim maior, fim que nunca saberá, apesar de anotado para uma posteridade indiferente, externo a sua real existência, a ver entre os mais diversos quadradinhos de vida, seus andares, prateleiras de individualidades, próprias, em conjunto, quartos inteiros vistos de uma vez as montes em pequenos pedaços recortados. Quem poderia ser, dentro do que sou? Quantas existências partilham-se aqui sem conhecer-se? Se tantos podem ser, quantos podem ser eu?  Eu, meu futuro somente presente e os outros a não existirem, somente em seus lugares devidos, janelas?
             Agora também vejo diversos compartimentos, partes de mim que morreram. Carrego seus pêsames e cadáveres continuamente em forma de lembranças e presente. Desgastam-se como uma pele a ser trocada e hipocritamente repudiada, coerentemente humano. E os outros a serem humanos comigo, na vantagem de instigarem-me a ver, a partir de mim, a tudo, a mim, a tudo, eu. Também esses trocados...
             Porém há um pesar, por quê? Temer por tudo que deveria ter feito, com propriedade de poder arrepender-se é normal. O estranho é sofrer em tentar achar algo coerente nessa dragagem de deposições de movimentos de ponteiros, ordenações práticas que retornam para buscar sua causa. Consciente inconsciente de sua causa, somente de sua existência.
            Um exercício de matemática sem calculadora, naquele escritório com cheiro de infância e ambiente que me ensinou a reconhecer simbolicamente o conhecimento por papéis jogados não ao acaso, ligados ao acaso, e percepções vagas que se desenvolvem agudamente a qualquer faísca àquele fim maior, um meio propenso a cristalizar-se supersaturado em uma obra legada ao esquecimento ou duas linhas de um livro de História, prêmios desinteressados e um trabalho de uma vida de formiga. Pega-se a tábua de logaritmos, sob a sombra de prédios romântico-coloniais de um falso século XIX e semióticas estruturas de 50. Potenciações engrandecedoras, raízes intrincadas, deliciosas de resolver, como responder a perguntas guardadas a perderem seu sentido único, divisões racionalíssimas, multiplicações reversas, uma soma? Uma simples soma? Não posso usar os logaritmos divinos. Não sei somar! Não sei nada!! 
            Sinto pelo exemplo idiota, porém é perfeito. Por complexar o quotidiano, sem fazer disso um sequer pensamento desenvolvente de alguma filosofia sistematicamente inútil por sua falta poética de aplicação filosófica, somente estética, somente perdemos a possibilidade de ver a complexa simplicidade dos fatos, existentes para si, possuindo todos, mesmo que estruturados, o exato mesmo nível de interpretação para julgamento: valor. Esse é o poder destrutivo da dialética: fazer ser uma janela sem contraste frente à linearidade de seus conseguintes.
              A fraqueza do foco faz-nos ser múltiplos, fracos, subjetivos, incoerentes, fortes, humanos... Cria o tempo por necessitar dele para ver tudo em sua volta e para impressionar-se com a sua passagem. Somente o foco possibilita ver adentro de um quarto: seu recheio de identidades mal-formadas, dentro de um passar de ponteiro, desmoronamentos subsequentes. A fora de uma trilha: os ipês que a circundam.  Isso que interessa, pois nunca se conseguirá ver dentro do interior do que se está para fazer o resto existir, nunca se verá o interior de uma quartzo. Há, porém a linha e o horizonte que a finda... Finita.
             
              
            
           




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Le Jardin -Velho Presente


Le Jardin -Velho Presente

            Estreitava-se uma longa faixa de verde-esmeralda constituída de gramíneas nunca notadas frente à grandeza da mansão de sua infância e aos planos surrealmente sobrepostos em diversas dimensões dos arredores. Sobre tal tímido começo de jardim edificavam-se plantas falsamente decorativas: bizarras constituições semi-naturais, que olhares distraídos não distinguiam do nada.
            Vagavam, por aquele planalto escavado e refeito em planícies de algumas dezenas de metros quadrados, somente lembranças de quando crianças por lá corriam, perseguindo, sem aflição, uma felicidade infante, atenta e semioticamente consciente e coerente de seus pensamentos difusos. A mansão era um conjunto de apartamentos, cada um no seu, a desembocarem em automóveis imersos em música contagiantemente oriunda da única coletividade despropositada possível: a das multidões, dos shows, levadas a relacionamentos “menores”. Os planos eram morrinhos retos como os prédios a descerem até uma praça vazia em que somente caminhavam solidões agrupadas, que somente a falta de organização dos habitantes, tão eficientes em seu dia-a-dia, não possibilitara ser um estacionamento de propriedades esnobes.
            Vivia lá, numa solidão de lembranças a se confundirem, num apartamento cheio de escritos à espera da morte indiferente de seu autor e vazio de amigos, que já haviam se ido, filhos, que não possuíam identidade, somente nomes amarguradamente pronunciados em seu esquecimento, um senhor de sotaque levemente afrancesado, imperceptível à medíocre Zeitgeist que não permeava nem deixava de permear as reles consciências de seus vizinhos. Raramente saía de sua quadra, a mesma em que vivera com a mulher, filhos, amigos, vizinhos, que conversavam e partilhavam consigo idéias em um pano de fundo calmo e iminentemente em mudança. Quando saía, era a fim de ir a algum órgão público, perfeito representante da fria personalidade de um mundo cada vez mais desconhecido e que, ao mesmo tempo, não impedia ninguém de o descobrir.
            No centro, a organização fugia-lhe à compreensão: canos esteticamente desordenados em colorações epiléticas iam a qualquer lugar e vinham de lugar nenhum, levando não se sabe o quê. À laia das pessoas, vagando objetivamente por entre vielas enormes a céu abertamente limpo e asséptico.
            O senhorzinho não se sentia perdido, muito pelo contrário, demasiada certeza, encontrava-se extremamente consciente da atual situação: constrastava-a esporadicamente com seus tempos românticos de nuvens e esfumos de Debret e estruturas surpreendentes de Gaudí e Frank Lloyd Wright, já distantes mesmo em sua juventude a assombrar-lhe com a aura dos grandes gênios mortais, porém indissociáveis do futuro.  Pensava assim, e sobre assim às vezes em que escrevia, de resto, o mundo continuava tão normal quanto ao de tempos passados.
            Gostava de escrever sozinho, por entre o decorativo jardim, a rememorar-se de anos como de sonhos, sempre inconscientemente importantes, aguardando o momento certo de, ao aproximarem-se aos poucos, tomarem-lhe a alma de assalto. Ambos criando uma nova realidade, a alma e o senhor, que não se choca com o Real, somente dissolve-se nele, mudando-lhe o gosto ou deixando-lhe alguma incoerência sob forma de precipitado, desprezível essência.
            Maravilhosa incoerência que ocupa despretensiosamente seu ideário já desiludido, lentamente à procura de novos vícios para acumular: iludir-se, já desacreditado, incoerente em sua integridade coesa de sábio desconhecido.
            O jardim abria-se ao velho. Puxava pela maçaneta leve a porta-secreta que escondia uma desestrutura ainda mais secreta. De loucuras de maré baixa, sedimentadas pelo tempo, de viveres de baixa intensidade, de grandezas em suas pequenas partes, infindas, talvez, de emoções inflexíveis de expressão a nunca descobrirem-se por inteiro- para quê? Para mostrar cicatrizes?- de respirações lentas, sem lembranças.
            O novo jardim era significativo e gigantesco, como qualquer coisa aos olho sensíveis de infante, que embaça sua vista no decorrer do viver. Le Jardin era mais belo do que seria a um infante: possuía a benção de dar bálsamo às feridas, que esses não ainda obtiveram, de remover-lhe a impassibilidade, já permeada ao indivíduo mesmo ali, onde haveria justificativa para expulsá-la. A verdura dos labirintos no qual queria perder-se, porém com bússola para poder retornar - não mapa para desiludir em sua totalidade certa. A inexistência da companhia já fúnebre da amada esposa, somente a memória de seu suave toque. O éter do viver com a obrigação de fugir a qualquer realidade.
            Saído do portão, instantaneamente voltava-lhe a racionalidade emotiva de comportar-se, sem quaisquer possíveis oposições em seu interior. Lá, sem culpa, seus belíssimos e ainda mais raros escritos: tolamente verdadeiros.
            Não retornava por seus escritos, que levavam, por meio de suas imperfeições e consciência tóxica ao sonho, sombra à luz onipresente e igual do jardim sem estruturas possíveis fora dele. Depois de os ler não os queimava, ato demasiado dramático, simplesmente os jogava ao limbo: léu e esquecimento de si, um gaveteiro surdo recheado de possibilidades, impossíveis.
            

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PEDRAS DE CALCÁRIO, GRÃOS DE CARBONATO


PEDRAS DE CALCÁRIO, GRÃOS DE CARBONATO

Observo-me, nesses dias tão confusos, cujas situações ordenam-se em lembranças bem definidas e os próprios quadradinhos de calendário fazem-se sentir diferenciadamente pelo esquecimento gradual dos que os antecederam. Prenuncio que, passada a vertigem de existir em lá menor, triste, porém certo, haverá de retornar a costumeira mediocridade sem contrastes antecedente desse agora que me impõe esquecer. Certifico-me do meu passado com a noção de que não foi de todo necessário existir, somente ocorreu para passar mais rapidamente o tempo.
Um dia sem lembranças é como uma noite sem sonhos: uma total perda de tempo durante nossa necessidade de continuar existindo e impossibilidade de largar de vez tal existência. Devo ser extremamente presunçoso ao imaginar que os pensamentos determinam alguma grandeza de espírito como que em conformidade com sua forma de majestade grandiloquente, habitante esse único do intervalo entre ver e com o visto dizer, o espírito extremamente mutável em seus efeitos, mas constante em sua essência mística. Os julgamentos são resultados do viver, entretanto, não podemos sobreestimar nossa atual constituição de tal fórum e elevar a máximas as condições que esse absorve e as visões que adsorve. Posso julgar agora, na vantagem de ser despreocupado de meus atos abstratos - não demasiado levados a sério - na propriedade de não ter de carregar todas as definições que faço, as quais moldam o caráter antes por erosão que por solidificação.
Esse é o poder da desilusão: desgastar e destruir para moldar e fazer-se existir. Tudo o que é absoluto, em todas as suas ligações, se também não notáveis, não é notável. Os choques no tempo marcante de existir e ser eterno e absoluto em cada efêmero pensar não traumatizam, desgastam. Desiludem em placas de perigo fincadas ao infinito os enormes blocos rochosos bem construídos que despencam erodidos pelas pontas, como que algo independente que se solta sem mais a legitimidade de ser eu, somente meu. Esburacam os falsos sólidos que quando forçados desmancham em grãos de areia indefiníveis em nossa baixa-estima e por muito tempo dignos de nossa confiança compassiva.
Vejo, nesses dias que hão de marcar-me, como marcaram certos dias simbólicos de minha infância, e cujos significados preocupam-me menos que o ímpeto de assegurar-me que devidamente existiram, mudança. A iminência de mudança é uma das coisas mais inesperadamente estranhas e inexplicáveis ao existir, apesar de integrar-se bem às situações do raciocinar, vem na calmaria e não modifica nada, inicialmente, dissolvendo-lhe por dentro a Realidade. Então, o choque, e se faz necessário, como que por conseqüência de um processo natural, arranjar outro jeito de pensar, viver. Não de sentir, o que o comprova são os sonhos: sempre sonhados a mim de igual maneira, assumindo a posição de referencial inercial para essa dinâmica caótica que é a vida, e que tentamos explicar. Há mesmo períodos em que se descreditam os sonhos, é vergonha levá-los a sério, deixe-se perder na Razão, então.
Creio que toda lembrança também existe de mesma maneira, variando somente nosso humores e, por conseguinte, sua expressão nostálgica. A aleatoriedade caótica não me agrada quanto à integridade, pois há tanto encontros surpreendentes quanto desencontros deprimentes na vida, e, com tantas variáveis mentais, deve haver alguma inter-relação estatisticamente apreciável entre essas e a Realidade.
Vejo-te de lembranças de diversos e platônicos amores que futilmente poderiam ter chegado a concretizarem-se ao repelir todo e qualquer planejamento inútil, porém indispensável, e incoerente com as formas do amar. Porém a essência de ti como, abstrai, objeto é diferente de todo e qualquer sentimento já me ocorrido: deve ser tu a variável, assim como bem poderia ser eu e vós todas essencialmente iguais, que me cativam de maneiras diferentes e me fazem amar cada um de seus diferenciais, aos quais me agarro como a certificar-me da possibilidade disso existir frente à mediocridade do rotineiro não sentir e não lembrar.
Verdadeiramente quero jogar as ações retrógradas do passado ao que já passou e construir novos passos não por cima dos que evidenciam como cheguei até aqui, alguns já apagados pelo onipresente e seletivo a sua maneira vento do esquecimento, o qual também erode o que posso ser, tornando-me o que sou.
Quero utilizar-me de uma luneta ao contrário e botar a distanciar-se essa maldição que nega a mim. Esse eu notável só no presente de possível observância porque restringe-se aos que sozinhos trilharam seu caminho e o sabem, mesmo que de modo difuso, reconhecer. Aos que levantaram a poeira que carregada limou os pesos das incoerências e moldou a desilusões e a anos o que sou. Mais: o que não sou.




O Cheiro - Ritual Verdadeiro

O Cheiro - Ritual Verdadeiro

              Como? De onde? De quando vinha aquele cheiro, aquela sensação desencadeante de qualquer coisa que pudesse vir a acontecer. O momento de iminência era dominante, absoluto? Não. Sempre há alguns  buracos a evidenciarem a supremacia do espírito do momento. Sombras a imergir nas luzes, luzes cegantes emergindo no tranquilo e simples estar somente.
                Ser algo estranho a determinação da possibilidade de algo, frente à noção de que tudo determina-se por fatos observáveis, ou já observados, ser algo inútil desconstruir o que é feito é pensamento comum, do qual por longos períodos compartilho. Então deve-se tentar ao menos reconhecer, por trás de tal ilogicidade, uma emoção, por detrás a observar-lhe com desdém a racionalidade. Sobre emoções não há hierarquia, ordem, são perfeitas, nem há, talvez, possíveis explicações, pois são essas a base, imutáveis, dão-nos somente somente seus efeitos no entrecercar existente entre a alma e o mundo, o consciente. Cerca  o mistério, amplia-o e também o mundo, fá-los serem gigantes, porém vistos de ângulo por ângulo, somente: por entre ameias de castelo, seteiras defensivas e medrosas.
                As inutilidades do caos tornam-se belas somente acompanhadas pelas ou inscritas na ordem, essa fraqueza de de sentir simplesmente. Fazia-se, então, o caos presente? Sim, não... A ordem existia, existe, a limpar o que se suja com mais intensidade, exponencialmente crescendo de acordo com o que crescia em maior ordem lá. É soterrada, mas existe, em ordem de se poder defini-la. Afinal de contas onde há, pode haver ordem, há caos.
               Quanto ao que se podia sentir, ou que não existia, guarde-se no interior tolo de cada ante-ímpeto de ver, o pensar. Esse sempre sempre separando o ver do primeiro simplesmente viver. O que era real, se é que isso é possível, era o cheiro... Emanava de dentro de mim como a ser reconhecido à laia de algo de alguém perfeito, alguém que até aquele instante só se havia confirmado no indivisível mundo dos juízos e suposições sê-lo, agora, verdade.
               Não é possível que só nós, cada um, existamos, não posso resignar-me à aleatoriedade, apesar de sendo, podendo ser, as causas do haver as mais diversas. Sei que a beleza, essa sempre será a mesma, a do produto. Há consciência que se inebria da beleza de existir e constrói-se também dessa, a demais, em qualquer pensar isso ocorre. É mais possível haver a consciência criado a si dialeticamente da luz e sombra, das mais confusas gênesis, do que ter sempre existido, a se iludir: vazia quando não enrolados em nós que se desmancham ao mais costumeiro puxão. Por conseguinte, o cheiro não se tornara, era, não se criava, existia:  eu me crio, essa é a verdade, a qual sempre passará por mim, assim como passa o sentir daquele momento. Um instante de verdade suprema entre suprimidos nós, heróis-de-um-dia.

And then nothing
Nothing will keep us together
We will beat them
Forever and ever

But we can be heroes
Just for one day
We could be us
Just for one day

                   Se bem que aquele não era meu costumeiro eu. Enfim... 
                Tudo que não estávamos naquele longo momento era propriamente juntos. Ainda tateávamos, não às cegas, muito pelo contrário, porém sem muita consciência do que se fazia, procurando algo a que se agarrar- digo-o por mim.
                   A verdade era o cheiro e que, naquela cena tão verdadeira e cravada ao menos em meu ser, fosse o que fosse, éramos heróis, depois poderíamos não mais o ser, nem mesmo mais naquele futuro passado momento fatídico de encruzilhadas. Acompanhava-me de David Bowie, e sua voz permeante e solidificadora de possíveis especificidades a perderem-se, consciente da fluida insensatez dos sentimentos e de sua tendência e ímpeto de tornarem-se em Realidade: o sonho.
                   Via-a em faces nunca antes vistas, umas não em você, outras não em ninguém. E o cheiro, o passado a perseguir-me em lembranças desesperançosas de falhaços que tinham tudo para dar certo, a possuir-me com fútil identidade de ser exterior que chega e se vai. Porto Alegre, 2008, mudanças, agora esquecimento:

"Modify turbat, tunc evanescit"

                    Apesar de tudo estava- acho- imperturbável, desinteressantemente imperturbável e flexível ou tolamente emotivo: imperfeito? Só agora, pois tu possuis a apaixonante característica de acalmar e fazer não inerciar-se estupidamente os dizeres, os meus. Durante o período: tranquilo, observando e absorvendo qualquer informação não-filtrada, posto que feito em constante naturalidade e crescente paixão, que me vinha.
                   Agora noto os erros. Notarás as falhas? Revelar-se-ão os traumas de acertos e desacertos ,meticulosamente adsorvidos no viver não mais por mim do que pela angústia?
                      O que será agora? Sinto que muito há para ser dito, mas não obrigatoriamente, o impulso inicial perdeu-se nos intrincados labirintos dos relacionametos, não em vão!
                     Palavras, essas sei usar e saberei!
                   Disse-as, agora não as ligo: esporadicamente lembro de algum trecho, desimporto-as, marcam-me os êfemeros dizeres, os verdadeiros pensares: as emoções, inebriadas no cheiro. Agora dissolvem-se as palavras em novos planos, sempre descartados, a inconscientemente sobreporem-se, como passos, a custo sobre os que foram pisados primeiro. As palavras depois de ditas voam em liberdade, confundindo-nos em sua majestade, da masmorra que as criou e ambas querem mutuamente destruírem-se. Cronos onipotente ajoelha-se derrotado frente à liberdade perfeita em suas imperfeições que possuis e possuem também as palavras, sem acaso. Perde-se o sentido, independente, por ora, do que fora dito, oriundo, deveria ser, do que me recordo. Espero que as tenha feito permear a ti:

'Cause words
Those are the only
Thing... I have
To take your heart 
Away

Are only words
The only thing 
I Have...
To take your heart
Away

                   Não há mais iminências, nem cheiro, nem tu, somente tua lembrança em mim e tuas impressões sobre essa cortina de teatro atrás do qual há o mundo e a sua frente os outros, e eu.
                    Por ora...?


                   

Fuga

Nas letras escritas por sua mão
No doce e calmo tom de sua voz
Yukashimi contêm sua aflição
E se protege contra o ataque atroz

Canta para alcançar o umbral de sua
Felicidade gauche, bela, nua
Mesmo sendo apenas uma evasão,
Elas trazem ao vazio, compaixão

Canta também querendo agradecer
A única amiga de sua paixão
Por nunca deixar, ela não vencer

''Ah! Minha amiga de doce ternura!
Nunca abandone meu coração!
Minha única amiga: literatura!"

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Caneta Reticente- Começo de Desilusão

Caneta Reticente- Começo de Desilusão

     Enfadonho, insensivelmente enfadonho. Pior, enfadonho por tentar ser sensível, compreensivo, interesseiro sem querer, angustiado por naquele momento se ter de e dever ser a ação pensada, nunca memorizada, orgulhosamente natural ao buscar uma completude não encontrada nem mesmo em duradouros relacionamentos dos quais se vai perdendo, desconstruindo, o sentido aos poucos, rotineiramente.
        Com a vantagem de ser em primeira vez feito, passei uma tarde inteira a esvaziar-me, sem perder, entretanto, o conteúdo em falsos carácteres,pois é produto esse natural da mente, o qual a forma e a designa. Fi-lo esperando que fizesse o mesmo. Se não o fez? Não nego que sim, em teus belos, penetrantes, mas de todo não assustadores olhos, que caso o fossem fariam-me fugir em minha despronunciada timidez e disfarçada covardia, vi verdade. Uma verdade que, mesmo despropositada- creio que sim- levava-me, inspirava-me a dizer toda sorte de besteiras que fizessem prolongar aquele momento, nunca suficientemente longo, besteiras também verdadeiras.
          Admito que em agora só possua os juízos do ocorrido, porém tal racional ilusão é o máximo que se chega, que se sente da Realidade. Porém, não o pronuncio em vivos pulmões, a dúvida, devido ao fato de poder confirmar a partir da misticidade impenetrável e angustiante dos passados distantes, agora aproximados, o que deu errado.
           Vi-a passear com aquele jeito todo seu que inventei, sem diminuir-lhe a legitimidade de possuí-lo, do que vi e do que quero ver em você. A beleza, nota-se, certamente é uma vantagem, a associação de uma beleza como aos rios construídos de afluentes de características mal-definidas do meu mutante e fluido bel-prazer , do tempo anacrônico que persegue ao presente, essa conjuntura de perfeições então, é de uma imediata noção e bem-construída conquista. Essa faz-se sentir pelos efeitos malignos que produz: aquela cólica de não-preenchimentos, aquele pensar solto e, concomitantemente, uma boa realidade na fundação de tudo que posso aperceber-me de ti. De ti: raciocínios inextrincáveis e inúteis, que têm como fim descobrir e repossuir do simples sentir, em julgamentos de vendas retiradas e a observarem-te, alguma, se possível, realidade para guardar e fazer-me lembrar com falsa certeza sobre o que aconteceu, ou seja, sobre ti.
       Chega de ti! Não a sério, ainda... Perdoe-me. Nunca! Agora, nunca, efemeridade eterna de impressionar-se, eternidade efêmera de angustiar-se. Não há coisas a dizer que não lhe concernem dentro de mim . Sinto-me dominado por de dentro, como que por alguma substância, por algo que não sentia a notável tempo. Algo construído tão somente por impressões e exponencialmente crescentes inferências e cujo nome não direi. Ainda...
             Vi-te então a caminhar por entre rostos não mais importantes, possuindo exata consciência de minha localização e de seu trajeto, e também uma vaga noção do que se diria lá. Lembrava-me não do que disse, como agora lembro-me do que dissera, e por consequência em uma cena que não dirigi passaste, entre um vago cumprimento e um nada para se dizer imensurável e meu.
          Agora encontro-me nessa biblioteca miserável, deste colégio fútil e ridículo, entre horas que felizmente não passam, mas ,infelizmente, retêm as do amanhã. Estou a definir algo criado como indefinível, que se cria indefinível, tolamente. Passei a tarde a vagar vagamente construindo, talvez, belas conversas que poderão tornar-se alguma, mas verdadeira, amizade. Não mais o sei, vendo-se o que ocorreu ou não, mas com propriedade digo que impeliu-me a abrir buracos na consolidada em variáveis já anotadas realidade.
            Lia, até há pouco, o melancólico António Lobo Antunes a narrar e descrever pequenas desgraças a engrandecerem-se no existir. A concentração se esvaia em desesperança, tristeza, sempre acompanhadas de raiva e de algo a esperar. Desesperança justificada e iluminada pelas malditas paixões bem-construídas num nada miserável de noções que vieram a ruir em suas bases, sempre ruem... Foram tempo abaixo as impressões de ambas as partes, digo de minha parte consolidadas e dissolvidas posteriormente em dor, que fizeram meus planos implodirem e por sua vez aterrar meu desejo e obrigação de amar.
         Sim! Planos, planos e mais planos descartados na iminência de algo acontecer ou não como que para  solidificar a ilusão possível de maior plenitude da situação fatídica que nunca ocorrera, pelo menos não assim. Máscaras.
     Qual seria a definição de amar? Abro ironicamente uma daquelas enciclopédias, que passam despercebidas nas prateleiras assim como eu nos corredores.
         Amar: instinto de aproximar-se bem-querer alguém...
         Teria imaginado tudo aquilo? Das outras definições do verbete?
         A sensação é a mesma de ter tão-somente imaginado tudo o que factualmente se passou antes e tudo que infiro presunçosamente ter te feito sentir.
         Não, procurava o verbete errado:
      Amor: sensação impelida pelo instinto de querer a alguém. Vontade de engrandecer ao fazê-lo, bobagens e tolices...
          Amor deve ser o instinto mais bem-pensado e racional que deve existir, exceto em suas consequências. Notável desorganizador de pessoas, fá-las vagar bestialmente. Porém: quem disse que Razão acarreta em ordem? Muito pelo contrário, acarreta uma saudade de nunca a ter possuído verdadeiramente, muito antes em reflexões desnecessárias para destrinchar...
         Conversamos sobre coisas tolamente importantes, sinceros e honestos assuntos filosófico-existenciais típicos de seres perdidos não na busca de uma bússola, como nós. Sobre o que fizeste, o que és, o que faço, o que sou, misteriosamente encobertos de algum naquele momento desnecessário pudor. Elogiei-te com a máxima sinceridade, temendo ser sem caráter e hipócrita. Contaste-me sobre coisas suas que a fizeram ainda mais apaixonante. E poderíamos então ser melhores amigos conhecidos naquele mesmo dia. Afinal: o que faz os mais íntimos serem tão especiais? Isso já são  pensamentos meus, que lhe devem ser estranhíssimos em sua aparente frieza, assim como são-me frios os seus por desconhecê-los.
          Somos ambos estranhos um ao outro: notei-o ao levantar-me ontem da mágica situação, ao vagar a esmo tolo nas grandiosidades de minha chata e sinceramente despropositada grandiloquência, preenchida de tal aversão a clichês, que a faz parecer um- se não o é-, e então encontrar-te ao acaso e ver outra pessoa, assim como viste outra em mim, de pé, sem palavras. A diferença é que, na conversa, não há estranhos: se se está aqui é porque se é conhecido, sabe? Será? Somente não entendo por que ao levantar-me, nunca esgotado, éramos outros, reconhecíveis somente. E eu, um estranho...


domingo, 12 de agosto de 2012

Queda

Com a mãe morava no seu palácio
Lápis e navalha, amigo fiel
Com ciúmes, o pai fez seu prefácio,
Fuja deste companheiro infiel!

"Eu te amo" na verdade quer dizer
"Tu só serve para me enriquecer"
Teme a falsa verdade mentirosa?
Que te devora? Luta ambiciosa?

Tais palavras antrozas te encurrala
Apesar de tentar fugir, somente
O próximo mata sem preconceito

Sua vida não passa de um defeito
Culpa do desejo obscuro e ardente
Só sua morte pode salva-la.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Início e fim


No início tudo era belo
Apesar daquela noite
Tão fria e misteriosa

Haviam ali duas almas
Ingênuas e perdidas
No mar da paixão!

As mãos frias da moça
Agarravam o pescoço
Do sonhador moço

Mas o que é o frio?
O beijo aquecia a alma
Ambos satisfaziam-se.

Loucura ou coisa da vida?
Após a dança de sentidos
As horas voavam;mil voltas!

O moço está ansioso...
E agora vida?
O destino aguarda...

A donzela chegou!
Mas o que é isso?
De súbito o tempo para.
Pobre coração moço
Virou simples pedra.
Ó malévolo feitiço!

Onde estão as duas almas?
Não consigo encontrá-las
Poupe-me esperança!

O tempo está voltando.
Os pensamentos não,
continuam perambulando.

Chega de viajar no tempo!
Ouço um ruído...
Meu coração de pedra foi destruído.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Yukashimi

De cabelo prateado brilhante
Tem beleza e pureza glacial
Sua alma, leve e clara é natural
São marcas de seu corpo ofuscante

Flores da planície trazem memória
De sua origem e de sua história
És última filha da natureza
Mas é privada de sua riqueza

Ah! Yukashimi! Por quer sofre tanto?
Sinto seu sofrimento no seu canto!
Canta sobre as torturas de teu sangue

Angústia d'uma traição mancha esta
Família que Yukashimi detesta.
''Salvar-me-ei" Devo ficar estangue!''

sábado, 2 de junho de 2012


Ao Passar dos Ponteiros
Uma Explicação à Maturidade
                Uma foto feia. Nada mais que isso. Pelo menos assim o seria por muito tempo...                                                                                                      
               A neblina tornava-se densa à medida que se aprofundava o cenário. Do canto superior esquerdo, surgiam dos céus plúmbeos, tão baixos naquele instante, de limitados pelas baixas nuvens tão úmidas, retas. Negros fios que fracamente contrastavam-se do cinza a partir que avançavam ou, se o observador os pensasse a afastar, desapareciam nas tristes nuvens daquele amanhecer de inverno.                                                          
             Naquele ano, o inverno havia se prostrado aos seres pensantes, aos observadores do viver nas coisas mortas, de forma tímida. Prostrava-se de forma a aparentar querer certificar-se de que não seria destruído pelo glorioso e sempre surpreendente Sol que, ao longe, dissolvia-se em nuances de vermelhidão no escuro e lúgubre céu de fim de junho.                                                                                                                                        
             A dúvida naquele instante, retratada pelas mais simples marcas de luz em sombra, acentuava-se de forma intrigante no momento em que se tornava visível no negro chão asfaltado um “Y”.                                                                                                                                               
              E agora? Para onde vou? De mesmo aonde eu vim?                                                                                                              
              Dúvidas tão corriqueiramente humanas em coisas tão certamente mortas sem nunca ter vivido.                         
              Como para acentuar o que já era bastante expressivo aos olhos de raros passantes atentos, brotava do chão, de modo a aparentar plantada, há tempos, sob forma de triste semente de corrosivas e destruidoras dúvidas, uma placa que não devia estar apontando a direção alguma. Uma placa de bordos vermelhos, talvez para quebrar a monotonia daquele 1/64 de segundo.               
             Uma placa cuja função era dizer:                 
            -Todos os caminhos levam ao erro, mas siga-me!                                                                                                   
           Vale a pena dizer que a placa apontava ao céu, constante em sua inconstância, a qual se disseminava em todo o arredor.                                                                                                                                                              
            Todo aquele cenário dava-nos uma sensação de acolhimento, pois, além de não se limitar no infinito, todo aquele retrato feito da dúvida, da indefinição levava-nos a um único reconfortante ímpeto: o de descobrir.                                                                                                                                                                                      
            No meu caso, uma vez que não havia descoberta a descobrir e as explicações me eram fáceis de explicar, tento desencavar complexidades nos sentimentos que nos passam tais coisas simples. E sobre sentimentos não há hierarquia, somente uma noção conscientemente errônea dessa, o que nos conforta no falso saber.                                                                                                                                                                                     
            O falso saber. As falácias o desmentem e ele xinga às falácias de falácias. A falta de absoluto, de regras imutáveis. 
            Se não as pode achar, então não as chame de regras.                                                                                       
           O falso saber, ao decorrer da História, define-se e redefine-se, entrecruzam-se os fios, emaranham-se, não são cortados, apenas somem.                                                                                                               
           Os fios das ideologias não são opostos somente quando paralelos e sobre diversos pontos de vista são diversas coisas. Lembre-se disso e seja você também um plantador de falácias.                                                         
          Um novelo de lã ou os fios de um poste?                                                                                                                            
          Sentimentos revelam ou obscurecem? Somos feitos tais como uma folha em branco? Somos um livro com as regras gramáticas já escritas?                                                                                                                                               
         Do que é feito o papel? Como a caneta escreve? Como são as palavras?                                                               
          Tantas reflexões tendem a ser vistas como inúteis, pois dão voltas e mais voltas, talvez sem resolver muita coisa.   
          Porém um círculo é belo para os plantadores de falácias, que são poucos. Então, para desligar-me de tão dura realidade, falo a muitos sobre coisas que nos afastam dessa, mas de modo a esclarecer não, nunca, obscurecer, mistificar.                                                                                                                         
         Apesar da enorme quantidade de nuances de vermelhidão e fios entrecruzados caoticamente, talvez, a ilogicidade, como esta nos foi definida um dia quando pequenos e indefesos, permita-nos concluir de forma, também, satisfatoriamente ilusiva. Quem quiser entende-la tal como obscura, leia-a. Quem quiser vive-la como esclarecedora, reflita sobre.                                                                                                    
         Certamente, aos passantes, aquela simples rua que se divide em duas não é mais que uma metade ou menos de caminho a ser percorrido. No entanto, a quem a simplicidade das coisas revela os sentimentos mais profundos dos simplificadores e dos simplistas, a quem o tempo já marcou os olhos, tal cena torna-se um achado, não mais a ser perdido.       
            Aos outros, somos apenas estúpidos falando de coisas estúpidas, ouvindo coisas ainda mais estúpidas, entenda-os...                                                                                
            Sentimentos são complexos e diversos somente porque são tratados de forma complexa e diversa, tão somente.
           Digo isso porque sei agora que podem ser facilmente desvendados por algumas linhas e uma simples linda foto.                                   

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um dia comum

   -Nossa que dia quente!E eu aqui em casa sem fazer nada!E eu aqui em casa sem fazer nada!Que tédio!-dizendo isso estava Anabele deitada na sua cama, com os braços e pernas esticadas e quase afundando completamente nos lençóis  e cobertores fofos e confortáveis.
   Ela levantou e ligou a TV, nem tirou o uniforme do colégio por pura preguiça.Enjoou da TV e foi para o computador apenas papear ou assistir vídeos, talvez procurar informações sobre o menino da escola que ela estava afim.
   -E esse menino que não repara em mim! Já dei indiretas demais,talvez eu seja muito para ele...
   Ao dizer isso ela levantou da cadeira do computador e foi comer algo. Como estava muito quente,até dentro de casa, Anabele pegou um pote de sorvete, encheu um copo,botou bastante cobertura,guardou o sorvete e voltou correndo para o PC, jogar conversa fora com as amigas e reclamar da vida.
  Algumas horas depois, com a vista já ficando cansada, Anabele foi estudar. Estudar para ela era apenas ler umas coisinhas da matéria em questão e fazer exercícios, se o professor mandasse, se não ela nem fazia. Eram quatro exercícios para o dia seguinte para o dia seguinte mas ela fez só um.
   -Os outros três eu pego com outra pessoa, aquele moleque nerd que parece gostar de mim pode ajudar; ou talvez meu amor não correspondido, só para puxar conversa.-pensou Anabele.
  Belinha, apelido que seus pais deram, era de uma estatura um pouco acima da média, tinha cabelos castanhos claros, os olhos pareciam uma mistura de castanho com verde e eram grandes e redondos, pode-se dizer que ela era muito bonita, tanto de rosto quanto de corpo, mas sua voz é chata e suas conversas superficiais diminuíam essa beleza. Morava num apartamento de tamanho duplo, em um dos últimos andares dum bloco no centro da sua cidade. Seus pais queriam dar para ela a vida que nunca tiveram e acabaram mimando-a demais.
   A noite chegava rapidamente e os pais de Anabele enfim retornaram, a mãe costumava chegar uma horinha antes. O jantar foi servido pela moça que trabalhava lá um dia sim e um dia não, especializada em comida. O jantar estava delicioso como sempre mas fazia tempo que Anabele não agradecia ou elogiava qualquer coisa. Todos comiam em silêncio e isso de certa forma tirava o gosto da comida.
  depois de comerem todos foram ver TV, passou o jornal e depois a novela, durante o jornal Anabele nem prestava muita atenção, ao invés disso ficava mexendo no seu aparelho eletrônico, o último que saiu, e já estava de olho no próximo,fato que já originava reclamações sobre o seu celular.
   Acabou a novela e os pais, já cansados, foram dormir.
   -Vai dormir Belinha, você tem aula amanhã e você deve estar cansada, né? Tome seu banho e escove os dentes.Até amanhã.- disse a mãe bocejando.
   Belinha seguiu para seu quarto e dormiu indiferentemente; sem alegria, sem tristeza, apenas dormiu. Um pouco abaixo do quarto dela e um pouco para o lado havia um violista morando numa kit, estudando técnicas de arco e torcendo para ter dinheiro suficiente para pagar o aluguel no fim do mês. E no térreo, o porteiro do bloco estava quieto, todo enrolado num pano, assistindo sua TV de 10 polegadas e subitamente um choro de criança alto,forte e cortante varou-lhe os ouvidos; mas ele só encolheu-se um pouco mais.
   -Toma meu filho aproveite enquanto tem.
   Uma criança comia um pão recém-comprado com certa voracidade e seu pai alto de cabelo desgrenhado e casaco surrado e furado, olhava para ele com extremo amor e compaixão.
   Após terminar de comer, o menino e seu pai andaram juntos à procura de um lugar razoável para dormir e no meio do caminho o pai avistou uma nota de 20 reais.
   -Graças a Deus!- pensou o pai.
   A essa altura o menino já estava dormindo nos braços do pai, e a felicidade de ambos foi suficiente para a noite ser agradável e serena; ambos sorriam.
   O porteiro estava com frio e olhava para o pai e o filho incrivelmente acomodados no chão.
   -Deve ser um homem honesto, diferente daquela patricinha enjoada que nem sei o nome, só sei que começa com "a".- pensou o porteiro.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Jade

Cade a pedra preciosa jade?
Mil baús abri sem nenhuma sorte
Que lealdade à sua sorte!
Você é como Sakura no norte.

Encontrei a jade em terra ferida
Afundando nesta areia maldita
Eu tentei salva-la de tal angústia
Mas fui afogado pela bandida.

Lépida ela ficou com o meu
Sofrimento, sou sofredor sofrido
Condenado pelo amor proibido

Não mereço este bom amor seu?
Ganância afasta-me desta paixão?
Achei minha paz nesta escuridão...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Seta Serena

Oh! Seta de chumbo! Oh! Seta de ouro!
És rombuda, machuca, afasta, mata!
És aguçada, atrativa, que estouro!
Será serena, minha serenata?

Sim! Veja como é triste meu enredo
Amaldiçoada sou por minha dor
Contra tal amor, impiedoso medo
Contra tal medo, impossível amor

Tu, apavorada por minha culpa,
Este desejo só atrai banzé
Esse rancor deixou uma cicatriz

Não há como ajudar-te com desculpa
Afastar-me-ei de ti, já que é
A maneira de deixar-te feliz...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O mistério


Noite bela natural
Apesar de bem cansado
Não estava amado

Animou um com a beleza
Com os passos ponteando
A fronte corando

E o que aconteceu?
E o que acontecerá?
Só meu bom par sabe

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Doce delírio


Era uma noite chuvosa, as gotas d’água caíam suaves como neve, e a luz fraca do quarto de Marcelo Torino o convidavam a imaginar. Marcelo imaginava sua amada, pensava em como surpreende-la,era algo que ele gostava de fazer;surpreender as pessoas,principalmente as que amava.Passou-se um tempo e Torino decidiu o que iria fazer.

O dia seguinte estava estranhamente diferente, sem uma única nuvem no céu e sem nenhum ruído na atmosfera, tudo estava completamente calmo. Marcelo então pegou o seu carro e dirigiu-se para a invasão mais próxima de sua casa. Para ele era uma aventura, estar cara a cara com o lado “negro” da sociedade (era assim que ele pensava),com a materialização das mesquinharias e ignorâncias dos que se dizem bem afortunados.Em meio aos escombros Torino avistou um cavalo vistoso,bonito,branco,nem parecia real.Ao lado do cavalo havia um velho de barba longa e branca,usando um chapéu de palha e olhando para o chão com uma expressão tão misteriosa que intimidava.Marcelo sem dizer uma palavra apenas deu um punhado de notas e moedas para o velho,pegou o cavalo e saiu trotando pela cidade,rumo à residência de sua amada!

Antes mesmo de chegar ao seu destino o cavaleiro avistara sua mulher,já o esperando,bem ao longe.”Ah como ela está linda!” pensava ele.Os cabelos ondulados e a expressão simples de beleza ímpar do seu rosto pareciam trabalhados por deuses!Ok, sem mais delongas o cavaleiro chega, apesar de sem armadura, estava reluzente à luz do sol. Ela não hesitou em pular no alazão e sair trotando com seu homem pela cidade. No momento em que a moça sentou no cavalo a atmosfera ficou leve subitamente; e eles foram indo para fora da cidade, só que sem rumo.

As paisagens na estrada iam mudando rapidamente enquanto pesava um clima de silêncio sepulcral. A moça, que por acaso não possui nome, seguia abraçada ao cavaleiro, sentada na parte traseira do cavalo. Ele estava aflito... Nesse tempo todo nem uma palavra sequer saiu da boca de ambos!O cavalo branco acelerou e as paisagens das mais diversas começaram a passar mais rapidamente, porém de maneira de maneira tão estranha que elas mais pareciam estar rodopiando em volta do casal.

De repente a mulher, agora com expressão séria, disse com voz muito aguda e firme:

-Chega de moleza!Chega desse silêncio!

-O que foi minha querida?-disse o moço já tenso.

-Diga-me o que eu quero ouvir!

-Por Deus!O que você quer que eu fale!

-Você sabe... –disse ela olhando fixamente para o céu.

O cavalo parou e o ambiente agora era um deserto, no céu formavam-se grossas nuvens e em poucos segundos começou a cair uma chuva torrencial.O cavaleiro estava sem entender a situação e olhava fixamente para sua mulher tão querida.Ela olhou para ele sorrindo como se estivesse satisfeita do que acabara de falar e o sorriso transformou-se em risada.A risada, o som da chuva e os relinchos do cavalo misturavam-se nos ouvidos de Marcelo Torino.Então ele percebeu que as gotas da chuva estavam dissolvendo tudo,inclusive ele,e transformando as coisas numa espécie de pasta muito viscosa e escorregadia.Sua amada já havia sumido após um tempo,mas o som da voz dela continuava no ar.

Aos poucos tudo ao redor ia se liquefazendo e a coloração do ambiente estava aos poucos se tornando branca. Quando tudo estava branco e dissolvido a chuva já havia cessado, e apenas o torso de Marcelo estava inteiro porém afundando numa espécie de lama branca branco-acinzentada(era o que restara após a chuva).Quando apenas sua cabeça estava para foras da lama a voz tão conhecida de sua amada sussurrou-lhe no ouvido:

-Diga-me o que eu quero ouvir!

Enfim Marcelo acordou,no mesmo quarto com a luz alaranjada da lâmpada ainda fraca e o som contínuo da água caindo levemente no vidro era o único som presente ali.Marcelo Torino pensou:

-Pena que era um sonho,mas pelo menos já sei o que fazer amanhã.

E as gotas continuavam a cair incessantemente durante a noite,suaves como a neve.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A moça

A moça

Moça, muito obrigado
Por abraço apertado
Deu-me uma ilusão
Fiz a escolha errada?
Ou vem do seu Coração?
Sua volúpia é maldita!
Diga-me moça bonita?
Quer ser minha namorada?

Por D.Tajra