quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PEDRAS DE CALCÁRIO, GRÃOS DE CARBONATO


PEDRAS DE CALCÁRIO, GRÃOS DE CARBONATO

Observo-me, nesses dias tão confusos, cujas situações ordenam-se em lembranças bem definidas e os próprios quadradinhos de calendário fazem-se sentir diferenciadamente pelo esquecimento gradual dos que os antecederam. Prenuncio que, passada a vertigem de existir em lá menor, triste, porém certo, haverá de retornar a costumeira mediocridade sem contrastes antecedente desse agora que me impõe esquecer. Certifico-me do meu passado com a noção de que não foi de todo necessário existir, somente ocorreu para passar mais rapidamente o tempo.
Um dia sem lembranças é como uma noite sem sonhos: uma total perda de tempo durante nossa necessidade de continuar existindo e impossibilidade de largar de vez tal existência. Devo ser extremamente presunçoso ao imaginar que os pensamentos determinam alguma grandeza de espírito como que em conformidade com sua forma de majestade grandiloquente, habitante esse único do intervalo entre ver e com o visto dizer, o espírito extremamente mutável em seus efeitos, mas constante em sua essência mística. Os julgamentos são resultados do viver, entretanto, não podemos sobreestimar nossa atual constituição de tal fórum e elevar a máximas as condições que esse absorve e as visões que adsorve. Posso julgar agora, na vantagem de ser despreocupado de meus atos abstratos - não demasiado levados a sério - na propriedade de não ter de carregar todas as definições que faço, as quais moldam o caráter antes por erosão que por solidificação.
Esse é o poder da desilusão: desgastar e destruir para moldar e fazer-se existir. Tudo o que é absoluto, em todas as suas ligações, se também não notáveis, não é notável. Os choques no tempo marcante de existir e ser eterno e absoluto em cada efêmero pensar não traumatizam, desgastam. Desiludem em placas de perigo fincadas ao infinito os enormes blocos rochosos bem construídos que despencam erodidos pelas pontas, como que algo independente que se solta sem mais a legitimidade de ser eu, somente meu. Esburacam os falsos sólidos que quando forçados desmancham em grãos de areia indefiníveis em nossa baixa-estima e por muito tempo dignos de nossa confiança compassiva.
Vejo, nesses dias que hão de marcar-me, como marcaram certos dias simbólicos de minha infância, e cujos significados preocupam-me menos que o ímpeto de assegurar-me que devidamente existiram, mudança. A iminência de mudança é uma das coisas mais inesperadamente estranhas e inexplicáveis ao existir, apesar de integrar-se bem às situações do raciocinar, vem na calmaria e não modifica nada, inicialmente, dissolvendo-lhe por dentro a Realidade. Então, o choque, e se faz necessário, como que por conseqüência de um processo natural, arranjar outro jeito de pensar, viver. Não de sentir, o que o comprova são os sonhos: sempre sonhados a mim de igual maneira, assumindo a posição de referencial inercial para essa dinâmica caótica que é a vida, e que tentamos explicar. Há mesmo períodos em que se descreditam os sonhos, é vergonha levá-los a sério, deixe-se perder na Razão, então.
Creio que toda lembrança também existe de mesma maneira, variando somente nosso humores e, por conseguinte, sua expressão nostálgica. A aleatoriedade caótica não me agrada quanto à integridade, pois há tanto encontros surpreendentes quanto desencontros deprimentes na vida, e, com tantas variáveis mentais, deve haver alguma inter-relação estatisticamente apreciável entre essas e a Realidade.
Vejo-te de lembranças de diversos e platônicos amores que futilmente poderiam ter chegado a concretizarem-se ao repelir todo e qualquer planejamento inútil, porém indispensável, e incoerente com as formas do amar. Porém a essência de ti como, abstrai, objeto é diferente de todo e qualquer sentimento já me ocorrido: deve ser tu a variável, assim como bem poderia ser eu e vós todas essencialmente iguais, que me cativam de maneiras diferentes e me fazem amar cada um de seus diferenciais, aos quais me agarro como a certificar-me da possibilidade disso existir frente à mediocridade do rotineiro não sentir e não lembrar.
Verdadeiramente quero jogar as ações retrógradas do passado ao que já passou e construir novos passos não por cima dos que evidenciam como cheguei até aqui, alguns já apagados pelo onipresente e seletivo a sua maneira vento do esquecimento, o qual também erode o que posso ser, tornando-me o que sou.
Quero utilizar-me de uma luneta ao contrário e botar a distanciar-se essa maldição que nega a mim. Esse eu notável só no presente de possível observância porque restringe-se aos que sozinhos trilharam seu caminho e o sabem, mesmo que de modo difuso, reconhecer. Aos que levantaram a poeira que carregada limou os pesos das incoerências e moldou a desilusões e a anos o que sou. Mais: o que não sou.




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