sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um dia comum

   -Nossa que dia quente!E eu aqui em casa sem fazer nada!E eu aqui em casa sem fazer nada!Que tédio!-dizendo isso estava Anabele deitada na sua cama, com os braços e pernas esticadas e quase afundando completamente nos lençóis  e cobertores fofos e confortáveis.
   Ela levantou e ligou a TV, nem tirou o uniforme do colégio por pura preguiça.Enjoou da TV e foi para o computador apenas papear ou assistir vídeos, talvez procurar informações sobre o menino da escola que ela estava afim.
   -E esse menino que não repara em mim! Já dei indiretas demais,talvez eu seja muito para ele...
   Ao dizer isso ela levantou da cadeira do computador e foi comer algo. Como estava muito quente,até dentro de casa, Anabele pegou um pote de sorvete, encheu um copo,botou bastante cobertura,guardou o sorvete e voltou correndo para o PC, jogar conversa fora com as amigas e reclamar da vida.
  Algumas horas depois, com a vista já ficando cansada, Anabele foi estudar. Estudar para ela era apenas ler umas coisinhas da matéria em questão e fazer exercícios, se o professor mandasse, se não ela nem fazia. Eram quatro exercícios para o dia seguinte para o dia seguinte mas ela fez só um.
   -Os outros três eu pego com outra pessoa, aquele moleque nerd que parece gostar de mim pode ajudar; ou talvez meu amor não correspondido, só para puxar conversa.-pensou Anabele.
  Belinha, apelido que seus pais deram, era de uma estatura um pouco acima da média, tinha cabelos castanhos claros, os olhos pareciam uma mistura de castanho com verde e eram grandes e redondos, pode-se dizer que ela era muito bonita, tanto de rosto quanto de corpo, mas sua voz é chata e suas conversas superficiais diminuíam essa beleza. Morava num apartamento de tamanho duplo, em um dos últimos andares dum bloco no centro da sua cidade. Seus pais queriam dar para ela a vida que nunca tiveram e acabaram mimando-a demais.
   A noite chegava rapidamente e os pais de Anabele enfim retornaram, a mãe costumava chegar uma horinha antes. O jantar foi servido pela moça que trabalhava lá um dia sim e um dia não, especializada em comida. O jantar estava delicioso como sempre mas fazia tempo que Anabele não agradecia ou elogiava qualquer coisa. Todos comiam em silêncio e isso de certa forma tirava o gosto da comida.
  depois de comerem todos foram ver TV, passou o jornal e depois a novela, durante o jornal Anabele nem prestava muita atenção, ao invés disso ficava mexendo no seu aparelho eletrônico, o último que saiu, e já estava de olho no próximo,fato que já originava reclamações sobre o seu celular.
   Acabou a novela e os pais, já cansados, foram dormir.
   -Vai dormir Belinha, você tem aula amanhã e você deve estar cansada, né? Tome seu banho e escove os dentes.Até amanhã.- disse a mãe bocejando.
   Belinha seguiu para seu quarto e dormiu indiferentemente; sem alegria, sem tristeza, apenas dormiu. Um pouco abaixo do quarto dela e um pouco para o lado havia um violista morando numa kit, estudando técnicas de arco e torcendo para ter dinheiro suficiente para pagar o aluguel no fim do mês. E no térreo, o porteiro do bloco estava quieto, todo enrolado num pano, assistindo sua TV de 10 polegadas e subitamente um choro de criança alto,forte e cortante varou-lhe os ouvidos; mas ele só encolheu-se um pouco mais.
   -Toma meu filho aproveite enquanto tem.
   Uma criança comia um pão recém-comprado com certa voracidade e seu pai alto de cabelo desgrenhado e casaco surrado e furado, olhava para ele com extremo amor e compaixão.
   Após terminar de comer, o menino e seu pai andaram juntos à procura de um lugar razoável para dormir e no meio do caminho o pai avistou uma nota de 20 reais.
   -Graças a Deus!- pensou o pai.
   A essa altura o menino já estava dormindo nos braços do pai, e a felicidade de ambos foi suficiente para a noite ser agradável e serena; ambos sorriam.
   O porteiro estava com frio e olhava para o pai e o filho incrivelmente acomodados no chão.
   -Deve ser um homem honesto, diferente daquela patricinha enjoada que nem sei o nome, só sei que começa com "a".- pensou o porteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário